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domingo, 18 de agosto de 2013

Vidas quadradas



Ontem fiquei 30 minutos parada no trânsito para andar duas, du-as quadras. Já estava angustiada naquela estagnação pensando em subir no banco daquele retângulo de lata, com 4 rodas que servem para o transporte e fugir pela janela. Mas não fiz isso, simplesmente abri mão da missão e puxei a campainha para descer no próximo ponto. E continuei ali, sentada ao lado daquele quadrado de vidro empoeirado onde eu via os prédios. Prédios, retângulos compridos feitos de tijolos, aço e concreto, onde pude furtar instantes de quem vive lá. Pela janela quadrada do prédio via a sala iluminada, com pessoas entretidas por aquele quadrado onde aparecem imagens com alto poder de manipulação que chamamos de televisão. Eu via os moradores chegando, colocando senha para abrir a grade do portão. Da grade para a porta do prédio, de lá para um quadrado grande, de metal onde é possível se transportar na vertical. Do elevador para um apartamento, que é uma espécie de caixa de concreto, cheia de outras caixas fazendo divisórias e empilhadas em cima de outras caixas. Por serem caixas empilhadas não se pode fazer muito barulho. Sambar de salto na sala então, nem pensar. Não dá para falar alto, ter animais e crianças correndo, também não. Quem escolhe morar nestas caixas empilhadas tem que abrir mão de uma boa porcentagem da privacidade. Quem mora em caixa pensa ser feliz assim. Não tem jardim, não tem pomar, não cultiva uma horta e não tem balanço no quintal, simplesmente porque não tem quintal

Esta reflexão não é só por menos trânsito, afinal, foi ele que me fez parar e observar. Esta reflexão é acima de tudo por vidas menos quadradas.

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